Parte IIIE junto às alianças, cansava-se também a relação, que envelhecera precocemente, como um portador de progeria. Isadora já se machucava ao dizer não a Lucas. Enquanto ele sentia uma vontade maior que si de vê-la transitando em sua casa com roupas íntimas confortavelmente ao acordar com os cabelos lindamente desgrenhados.
- Acho melhor a gente terminar.
- Terminar? Você só pode estar brincando. Acabei de ouvir ao pé do ouvido que você me ama...
- E amo.
- E então?
- É uma questão de bom senso, Lucas.
- Como você pode pensar em bom senso quando o assunto é sentimento?
- Você quer uma coisa, eu outra. Estamos nos maltratando com isso. Eu não posso te dar o que você quer e nem você o que eu quero.
- Você é tão programada! Segue sempre alguma espécie de lógica em tudo que faz, coisa mais irritante!
- Lucas, quantas vezes brigamos nas últimas semanas?
- Muitas, mas isso faz parte das relações humanas.
- Não pra mim. A gente não entende o que o outro diz.
- Quem sabe com esforço.
- Eu não quero mais.
Disse isso e pegou a bolsa sobre a mesa, bateu a porta. Saiu soluçando pelo corredor ecoante. Nas escadas já não conseguia controlar o soluço que a sacodia convulsivamente.
Ele não tirava os olhos da porta. Sentou-se no chão da sala e chorou. Prometeu a si mesmo que não a procuraria.
Isadora jamais o procuraria, era orgulhosa demais para admitir que se arrependera e que queria voltar atrás. Embora soubesse que uma semana depois a tormenta recomeçaria pelos mesmos e velhos motivos.
Percorrendo seu caminho habitual do trabalho para casa lentamente, lembrou-se do dia em que saíram para jantar e na volta para casa não queriam se separar. Lucas estacionou o carro e a conduziu pela mão àquele banco de praça, que ela agora contemplava, no qual permaneceram por horas consecutivas, horas em que o tempo parecia em suspenso. Cada canto daquela cidade lembrava Lucas direta ou indiretamente.
........
Passados seis meses, Isadora abre um jornal a caminho do trabalho dentro de um táxi. A foto em preto e branco de Lucas de fraque ao lado de uma moça com um buquê de rosas brancas nas mãos a paralisa. Sai do transe com a mão do motorista do táxi no seu ombro perguntando se ela vai demorar a descer, lembrando-a de que o taxímetro está ligado.
*******
Eu não esqueci da minha missão, viu, seu Gamella? A próxima postagem é dela. ;)