sexta-feira, 28 de junho de 2013


Ela já não suportava mais desilusões amorosas. Sabia não ter resistência para fins tristes, porém reconhecia que tudo que é muito bonito acaba mal. É uma questão de proporção. Estivera bem nos últimos anos em sua zona de conforto, que fazia jus ao nome. Até que ele apareceu, sem fazer promessas explícitas, mas prometendo o mundo, veladamente. Apresentou-a a toda a família. As mensagens periódicas afirmando que lembrara dela por algo bobo.As fotos a cada duas horas. As mãos dadas, sempre por iniciativa dele, nos ambientes comuns. Não procurara nada daquilo, ele apenas viera até ela, como o terceiro de Terezinha, de Chico. E agora ia embora sem olhar pra trás, sem motivo aparente, dizendo ser cedo, que as coisas estavam caminhando depressa demais. Ela inventou 11 palavrões  especialmente para ele, entretanto decidiu segurar a indignação para não bancar a desequilibrada. Viu mais um dos homens de sua vida escapar-lhe entre os dedos e desta vez resolveu que não lutaria, não choraria, nem cairia em depressão. A vida continua, afinal, e isto ela já havia aprendido. Por fim, decidiu que investiria alto no conforto da sua zona de conforto, já que voltaria a morar lá.


sábado, 27 de abril de 2013

Dos Diálogos Memoráveis XXI



Conte-me, quando volta a escrever?
- Outro dia até que comecei a rascunhar um texto, mas não passou disto. Apaguei-o, não gostei.
A inspiração me abandonou, moço.
E o que a inspirava naquele tempo?
- Algum romantismo que me restava, talvez.
No sentido artístico da palavra ou uma relação com outrem?
- Na verdade em relação à vida, de modo geral.
E o que houve pra perder esse momento?
- Nada em específico, acredito que a maturidade atropelou meus romantismos e eles já estavam mortos quando o socorro chegou.
-  Determinação mais legal! Vou escrever sobre isso, talvez.
- Escrevamos.

sábado, 13 de abril de 2013

Dos diálogos imaginados


- Como podemos ser tão parecidos e tão diferentes?
- Não é bom que seja assim?
- Mas faz sentido?
- Precisa fazer?
- Por que você sempre me responde com outra pergunta?
- Porque as respostas não existem. Pronto, uma afirmação, para acalmar seu coração adepto da exatidão.
- Porém uma resposta evasiva.
- Verdadeira, entretanto.
- Não me acostumo com isso.
- Com isso o quê?
- Você é escorregadio demais.
- Me abrace e diga que me quer, eu fico.
- Este é o problema: nem sei se quero que você fique.
- Se você não quisesse, teria certeza. A dúvida já diz que quer.


Ela esboçou um sorriso triste e se deu conta de que ainda não havia feito as compras para o jantar. Abandonou seus pensamentos e foi cuidar do ordinário, já que o extraordinário só acontecia em seus pensamentos.