quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Mudança


- Eu já fui intransigente demais com você. Me irritava com a sua voz. Com a sua barba por fazer. Com o modo como você fala ao telefone. Com o seu beijo. Com a sua expressão de desdém. Com o seu francês bem falado. E até com a cor das suas camisas. Hoje eu só não te quero mais. Nem pra treinar o meu francês mal(...)dito.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Paredes imaginárias


Fora educada para ser uma lady. Pernas cruzadas ao sentar. Guardanapo no colo. Movimentos leves e graciosos. Sem risadas extravagantes... Sempre achara tudo aquilo um tédio e reprimia os bocejos que aqueles jantares monótonos lhe provocavam. O que queria mesmo era se atirar em queda livre sem pára-quedas. Jogar-se nos braços da luxúria sem preocupações com a etiqueta. Amar, amar perdidamente como Florbela, ainda que com a tristeza que lhe é peculiar. Ou principalmente pela tristeza. Dançou pelo quarto como uma plebéia, simulando um par alto e robusto a guiá-la. Queria ter a opção de dois caminhos como Chapeuzinho Vermelho, escolheria, por certo, o das flores. Ou ainda adormecer por cem anos, como a outra. Tranças iguais as de Rapunzel seriam úteis para uma fuga daquelas paredes cinza-masmorra. Desceu à praia. Mirou-se na infinitude da paisagem. E imaginou quão imensa era também sua insatisfação, sua dissimulação. Voltou para casa. O jantar estava servido. Tinham visitas.
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O Vicente e a J.S., me deram o Selo Astrobaldo de Qualidade: Blog Recomendado. Obrigada, queridos.
Eu indico para o selo:
- Pushoverboy, do Bloco de Notas;
- Mila, do Caixa de Sapato;
- Jr., do Gamella;
- Gabriela, do Ma Passion Rouge; e

sábado, 23 de fevereiro de 2008


- Você lembra do quanto eu relutei em casar com você?
- Lembro. E eu louco indo a sua casa todos os dias. Já andava com as alianças permanentemente nos bolsos. O que te fez mudar de idéia?
- Eu não mudei de idéia, você me venceu pelo cansaço.
- Eu fui tão insistente assim?
- Foi, e te agradeço por isso eternamente. Se não fosse você, eu não me sentiria a mulher mais feliz do mundo no fim da vida.
Beijaram-se e saíram de mãos dadas para preparar o jantar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Das entrelinhas

Querido meu,

Você me fez mais feliz do que eu julgava ser possível. Entretanto, já não consigo conviver com o seu olhar indiferente, com o seu amor em putrefação. Não me despedi pessoalmente porque eu sei que não conseguiria. Mas escrevo essa carta com sangue, sangue que verte do meu peito aberto, com o coração exposto, pulsante. Coração que você guardou em uma caixa junto com coisas importantes e que agora devolve ao lugar sem fechar a ferida. A cicatrização é lenta, eu sei. Mas eu te privo de acompanhar esse processo doloroso. Vou-me. Para sempre. Para o mundo. E espero nunca mais o encontrar.

[Pegue-me no colo, diga que ainda me ama e que me quer aqui, junto de você, para que embalsamemos o nosso amor]

Adeus,

F.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Despedida



- Eu não estou chorando por você.
- Por que estás chorando então?
- Pelo amor que te dei.
- Se eu pudesse devolvê-lo pra te ver melhor...
- É por isso que eu vou embora. Você só pensa em devolvê-lo, não em retribuir.
- Eu nunca enganei você.
- É verdade. Quem me enganou fui eu.

Bateu a porta e se foi para sempre com o coração entre os dedos, sangrando.
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Ouvindo Luzes, Arnaldo Antunes.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ego

Parte 5 ou Última Parte


- Alô, Carla?
- Oi, Júlia. Nossa, você me ligando? Que coisa mais... atípica.
- É verdade. É que amanhã é sábado, achei que a gente podia marcar alguma coisa à noite.
- Ah, sim, claro. No que estás pensando?
- Pensei em um bar novo que abriu, várias pessoas já me falaram bem dele... não lembro o nome...
- Por mim tá tudo certo. Queres que eu passe pra te buscar?
- Ah, quero sim... não queria ir de carro sozinha.
- Certo, passo aí às nove. Ok?
- Ok... Carla, você pode levar quem você quiser, viu?
- Hum... pode deixar, entendi. Vou convidar o Pedro.
- Pedro? Que Pedro? Ah, o Pedro... nem lembrei dele. É, convida.
- Júlia, Júlia... tu és mais transparente do que imaginas. Até amanhã.

O que ela quis dizer com isso? Será que dei muita bandeira?

***

Quase dez da noite e nada de ele aparecer... Júlia já tinha decidido não esperar mais que ele viesse quando notou Carla olhando risonhamente sobre seu ombro. Era ele. Sentiu suas mãos esfriarem e seu rosto se aquecer.
- Olá, garotas.
Cumprimentou as duas com a mesma simpatia, o que a melindrou. Estava acostumada com exclusividade. Ele agia com tanta naturalidade, de modo tão espontâneo que a desanimou. Ela mal conseguia falar duas frases sem se enrolar com os pensamentos, gaguejar e ele ali, inteiro, como quem vai à padaria e pergunta o porquê do aumento de preço do pão francês. Depois, mais relaxada com as diversas doses de cuba libre que bebera ao longo da noite, já conversava animadamente com os dois. Carla, notando que sua presença já não era necessária, forjou um telefonema com um problema que exigia urgência para ser resolvido.

- Mas eu estou de carona com você, tenho que ir também.
- Eu posso levá-la. Escolha: ou foge de mim novamente ou fica mais algumas horas comigo aqui. Prometo que você chegará inteira em casa.
- Ok. Eu fico. Boa sorte, Carla. E obrigada.
- Estás me devendo uma. Boa noite pra vocês.

***
- Então... a sua fama de devoradora de homens procede?
- Claro que não. Só acho que os homens são presas fáceis. E isso os torna perecíveis.
- Você já esteve com todos os homens do mundo?
- Não, mas tenho corpus suficiente pra fazer uma afirmação categórica.
- Cuidado, na vida amorosa, nada é tão estatístico assim.
- Até hoje não falhou.
- Então um brinde a hoje.

***
- Não acha melhor avançar os sinais a essa hora? É tarde...
- Fique tranqüila. Você está segura comigo.
- Esse não é o caminho da minha casa.
- Sigamos o exemplo de Chapeuzinho Vermelho e vamos pelo caminho mais bonito.
- E você é o lobo mau?
- Talvez esse papel lhe caia melhor.
Pedro sinalizou e entrou num motel.
- A suíte presidencial, por favor.
Olhou para Júlia. Ela estava imóvel, sem esboçar reação nenhuma.

Ao entrar no quarto, ela analisou a decoração impecável do lugar.
- Se você me levasse a um motel de beira de estrada e pedisse o quarto mais barato, eu daria pra você do mesmo jeito.
Empurrou-o com força sobre a cama e começou a se despir. Ele a fitava com olhos faiscantes.
Beijou-o vorazmente. Abriu a blusa de Pedro com a habilidade de um torturador profissional: lenta e provocativamente. Botão a botão, seguindo o caminho aberto pela blusa com a língua. Sentia o peito dele arrepiado, com os pêlos eriçados. Soltou o cinto, livrou-o das calças e engoliu seu sexo com vontade. Pedro gemia e puxava seus cabelos com força, obrigando-a a olhá-lo.

Exploraram cada canto daquela suíte, vasculharam cada centímetro do corpo um do outro. Duas horas depois, se atiraram na cama, exaustos.
Olharam-se. Riram.

- Eu não disse que os homens são presas fáceis?
- Disse, mas você passou uma semana tentando marcar algo com amigos em comum em lugares que você sabe que eu freqüento, mas que por exatamente uma semana eu fiz questão de não freqüentar.
- Ah, é? E por quê?
- Porque eu gostei de saber que você estava se esforçando pra que acontecesse um encontro "casual".
- E não queria me encontrar?
- Claro que queria. Mas queria mais ainda que você notasse que eu não sou o tipo de homem-tapete com que você está acostumada.
- Hum...
- E amanhã? Como vai ser?
- Amanhã... boa pergunta.
- Eu posso te ligar?
- Deixe-me pensar...
- É, acho melhor retirar a pergunta.
- Eu preciso dizer que quero que você me ligue amanhã? Achei que já havia deixado claro.
- Precisa sim. Com todas as letras.
- Pedro, eu quero que você ligue amanhã.
- Não sei, acho que estarei meio ocupado.
- Engraçadinho...

***

- Obrigada. A gorjeta.
Fecha a porta e fita o buquê com vinte e quatro rosas vermelhas.

Pela melhor noite da minha vida (não, eu não digo isso a todas).
O que você vai fazer hoje à noite?

Muitos beijos,
Pedro.

Júlia sorri e pega o telefone para cancelar o jantar com uma amiga que marcara para esta noite.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Insustentável Leveza do Ser

Lendo A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, dentre tantas reflexões magníficas, tocantes e de profunda poesia, eis que encontro um trecho fascinante sobre o ato de escrever. Quem escreve sabe da dificuldade que é teorizar sobre isso. Kundera, como o fez em todo o romance, se mostrou um gênio ao tratar desse assunto.

"[...] os personagens não nascem de um corpo materno, como os seres vivos, mas de uma situação, uma frase, uma metáfora que contém em embrião uma possibilidade humana fundamental que o autor imagina não ter sido ainda descoberta, ou sobre a qual nada ainda foi dito de essencial.

Mas não se diz sempre que o autor só pode falar de si mesmo?

Olhar o pátio com angústia e não conseguir tomar uma decisão; [...] trair e não poder parar na estrada tão bela das traições [...]: eu próprio conheci e vivi todas essas situações; de nenhuma delas, no entanto, saiu o personagem que sou, eu mesmo, no meu curriculum vitae. Os personagens de meu romance são minhas próprias possibilidades que não foram realizadas. É o que me faz amá-los todos e temê-los ao mesmo tempo. Uns e outros atravessaram a fronteira que eles ultrapassaram (fronteira para além da qual termina o meu eu). Do outro lado começa o mistério que meu romance interroga. O romance não é uma confissão do autor, mas uma exploração do que é a vida humana, na armadilha em que se transformou o mundo."
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Conselho: quem ainda não leu, leia. Restam menos de cem páginas para que eu acabe a leitura e já me sinto uma viúva em luto fechado pelos personagens apaixonantes e pelo narrador mais reflexivo que já conheci.

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Ouvindo Valsa Brasileira, na voz de Luiz Melodia.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Dois pesos, duas medidas

- Você me olhava diferente antes.
- Diferente como?
- Você olhava pra mim. Essa é a diferença.
- Ah, você é muito dramática.
- Você está fria.
- Aprendi a ser prática, só isso. Não tenho paciência pra melodramas. Deve ser por isso que nunca assisti novelas mexicanas.
- Você não tem mais pudor. Olha com desejo pra outras mulheres na minha frente.
- Meu amor, entenda... somos seis bilhões de pessoas no mundo, eu posso sair com muitas delas, mas com quem eu passo todas as noites?
- Com você mesma. Com sua solidão acompanhada. Com seu autismo compartilhado. Cansei de falar sozinha. Vamos fazer uma coisa: você não precisa mais passar todas as noites comigo. Passe só metade delas. As outras eu pretendo passar com a minha terapeuta que me dá mais atenção do que você.
- É evidente! Você paga pela atenção dela. E a mim você só cobra.

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Edu Guimarães e eu criamos um blog conjunto para que tenhamos liberdade de destroçar, "destruir" e bagunçar a idéia do outro. A proposta é um começar um texto e o outro ir em frente. Vamos ver no que dá, por enquanto está Um a Um.

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O Vicente me indicou para dois selos (obrigada, meu querido!) - Blog Parada Obrigatória e Esse blog é show de bola - e agora eu preciso indicar mais alguns detentores de tais títulos.
E Johny Farias me indicou ao selo Eu tenho um blog de elite. Vamos aos indicados aos selos:

Drapetomania, da Fê Probst, indicada aos três selos;
Estalar os dedos, da Morganna, também aos três;
Cena 7, da Lucia, aos dois primeiros;
Bloco de Notas, dele mesmo, aos três; e
Sanctuarium, do Edu, também aos três.

Tentei não repetir os selos que já tenham...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Concerto


Ele sempre tivera uma queda por musicistas. Achava um charme mulheres tocando violoncelo, harpa então, era de delirar. Tinha sonhos eróticos com mulheres e cordas. Fazia a comparação padrão e nada criativa das curvas femininas com as dos violões. Lera em algum lugar, talvez na Folha de São Paulo, uma pesquisa feita por cientistas que chegou à conclusão que mulheres com quadris largos, cintura fina e coxas grossas eram melhores reprodutoras, têm filhos mais inteligentes. Algo sobre nutrientes importantes para o desenvolvimento do cérebro se concentrarem nessas partes. Não dera atenção aos detalhes, apenas à base da notícia. Pretendia ser pai. Não logo, mas quando quisesse, lembraria dessa pesquisa.
Assistindo aquela orquestra de cordas sua imaginação se centrou em uma das moças. Os cabelos claros, o vestido preto... a sobriedade atraente que compunha o estilo dela. Estava hipnotizado. Mal ouvia a música. A atenção que ela dava ao regente era algo que ele aspiraria se tivesse alguma chance com aquela mulher.


Ela, nua, com os cabelos presos, olhava-o, provocante. Sua gargalhada era musical, lembrava uma sinfonia qualquer dos grandes mestres. Teve a noite mais luxuriosa de toda a sua vida. A mulher era uma máquina. Fazia absolutamente tudo como uma profissional. Com a mesma habilidade com que acariciava as cordas. Horas depois, com o esteriotipado cigarro de depois entre os dedos, viu-a, ofegante, chamá-lo de "o melhor amante do mundo".


Foi desperto de seus pensamentos pelos aplausos, viu sua musicista sumir detrás da cortina vermelha e as luzes fortes derreterem seus sonhos fotofóbicos de quarto de motel com meia-luz.


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A propósito, a pesquisa existe mesmo. Ei-la.

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Ouvindo A Lista, Oswaldo Montenegro.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Voyeur


Ela sentia os olhares dele quando parecia distraída. Analisava-a milimetricamente. Já o vira entre frestas e portas entreabertas, sempre observando com um esforço sobre-humano de ser discreto.
Ele devia ter, se muito, 16 anos e sua admiração envaidecia muito a balzaquiana. Pensava na quantidade de meninas lindas, ninfetas, que ele devia cruzar por dia, mas era por ela que seu queixo caía. E ela sabia usar isso.
Namorava o pai daquele rapaz há, no máximo, dois meses. Não sabia com certeza, mas se tinha certeza de algo era de que desde o primeiro dia em que estivera lá, ele, o filho, desenvolvera uma tara por ela. Algo que só mesmo um pai não perceberia.
Gostava de instigá-lo. Já deixava frestas para ele. Nunca fechava as portas. Quando se sentia observada, sempre mexia nos cabelos, ajeitava o decote.
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Aquele ar de nerd, com os óculos na ponta do nariz, os cabelos bem penteados... nunca fizera seu tipo. Nem nos tempos de escola. Mas algo nele a atraía. Possivelmente a virgindade. Seu pai havia confessado isso certo dia, no jantar em que a pedira em casamento.
Nessa mesma noite, ao chegar em casa, o pai deu a notícia do noivado e os olhos do rapaz se apagaram. Olhou-a com um desespero comovente. Esperava dela uma negação daquilo. Com um meio sorriso, os dois subiram para a comemoração. Nas mãos dela uma garrafa de champagne e duas taças, além do anel de noivado, que reluzia, cegando-o. Desnorteado, olhou os livros de matemática sobre a mesa de jantar já parceiros da louça e dos talheres.
Diante da porta entreaberta, viu seu pai e a futura madrasta na melhor parte da comemoração. Tocou-se, imaginando a cena com uma troca de personagem.
Ficou paralisado quando viu o olhar da madrasta em sua direção com um sorriso.

No café da manhã do dia seguinte, os dois estavam à mesa. Frente a frente. O voyeur mal conseguia levantar os olhos.
- Você gostou do que viu ontem?
- ...
- Não se preocupe, vou me casar com seu pai. Ficaremos bastante tempo sozinhos aqui. Ele trabalha muito, você sabe. Posso te ensinar umas coisinhas. Mas pra isso você precisa me prometer que se guardará pra mim. Promete?
- ...
- Promete?
- Prometo.
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Ouvindo Pra ser sincero, Marisa Monte.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Acasos programados


Todos os dias ela cruzava com ele no elevador. O bom dia com aquela voz grave era quase uma carícia. Se esforçava para chegar sempre na mesma hora. Exatamente. Notara a pontualidade dele. Quando se atrasava e não tinha aquele cumprimento pela manhã, seu dia era um desastre. O mau humor a dominava. Tudo parecia dar errado.
Ela o desejava de um modo que a assustava.
Um dia leu no crachá: Arthur. O nome combinava com ele. Forte.

Naquele dia ela estava decidida a iniciar uma conversa com ele. No hall, esperando pelo elevador, ela, ansiosa, olhava em volta. O elevador já descera diversas vezes. Ela deixava a porta se fechar.
Quando, já atrasada, desistiu. Ao apertar o botão do seu andar, ouviu passos apressados. Segurou a porta. Era ele. Olhou-a com um sorriso, ajeitando a gravata. E além do tradicional bom dia ganhou um obrigado.

Ela balbuciou centenas de frases possíveis. Desde comentários sobre a gravata, o tempo, o tom do piso do elevador até considerações sobre a política externa de um país do sudoeste da África. Nada parecia servir. Ele desceu, como de costume, no décimo segundo andar e se despediu com um até logo sorridente.

Como todas as noites, ao chegar em casa, despiu-se. Olhou-se no espelho e imaginou aquelas mãos grandes envolvendo-a. Aqueles lábios cheios beijando seu pescoço enquanto seus cabelos são levemente puxados para trás. Deita-se. Fecha os olhos e se toca. Imagina a respiração forte acompanhada de sussurros ininteligíveis em seu ouvido. Geme alto e se sente esmorecer.

- Bom dia.
A porta do elevador se fecha.
É... mais um dia sem mau humor, pensa ela, analisando palmo a palmo as costas de seu desconhecido preferido.


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O fofíssimo do Vicente, do Palavras quase ocultas de um ser real..., me presenteou com o selo É um blog muito bom sim senhora. Obrigada, mocinho. Mesmo. :)


Pra variar, os mesmos critérios: blogs que eu gosto e que ainda não tenham o selo. Meus cinco indicados são (alguns dos que eu selaria já estão contemplados entre os indicados do Vicente):


Lucia, do Cena7;
Fê Probst, do Drapetomania;
Morganna, do Estalar os dedos;
Luca, do Lunaticidades; e
Edu, do Sanctuarium.

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Ouvindo Eu te amo, Chico Buarque.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Das mulheres que só dizem sim

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Tentavam várias fantasias para dar emoção ao casamento que já durava oito anos. Ela já se vestira de colegial, garçonete, enfermeira... entretanto, a que ela mais gostava era a de prostituta. Não só por tudo que a fantasia permitia sem que o marido a julgasse, mas porque ela, secretamente, tirava a fantasia somente dias depois. Nas noites de reuniões intermináveis do marido no escritório, ela se prostrava em uma esquina qualquer e saía com desconhecidos. Não se permitia repetir clientes, por isso sempre fazia ponto em uma esquina diferente. Cobrava valores muito baixos, arrancando olhares surpresos dos pagantes. Gostava de se sentir uma puta barata.

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Ouvindo Quarto de Dormir, Arnaldo Antunes.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Papo de Mulher

- Acredita que ele reclamou do meu decote?
- Ah, mas isso é de praxe...
- De praxe nada! O meu que não se meta a escolher as minhas roupas!
- Ah, eu não sei se isso é uma regra pra homens, mas o meu é um babaca.
- E por que você está com ele?
- Acho que tenho uma quedinha por babacas.

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Ouvindo Boca da Noite, Ceumar.