sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Ano Novo, Vida (realmente) Nova
Muita gente me perguntou e ainda pergunta porque abandonei o blog, a resposta é que em tempos de transição a inspiração evade. Mas agora, tudo resolvido, pretendo voltar a postar. Até porque o blog fez aniversário e sequer lembrei.
Agora, o clássico momento reflexão...
Quando você sai de um emprego no qual estava há mais de três anos, várias coisas vêm à cabeça: 1) o pânico de começar de novo; 2) o alívio de mudar; 3) as lembranças desbotadas de quando aquele foi um bom lugar pra se trabalhar; 4) a enumeração das pessoas incríveis e terríveis que você teve oportunidade de conhecer; 5) o tempo livre que você terá para cuidar de coisas para as quais não tinha tempo; 6) as leituras que se acumularam; 7) os 60 dias de férias que você nunca conseguiu tirar; 8) a certeza de que fez tudo que devia e podia e; 9) principamente a sensação de liberdade. Afinal, com tantas possibilidades, porque se agarrar a uma?
Esses são os sentimentos de hoje. Finalmente a expressão "ano novo, vida nova" faz algum sentido pra mim. Espero que pra vocês também faça, se a vida nova for melhor que a antiga, claro.
Um ano espetacular pra vocês, meus queridos.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Diálogos Memoráveis XVI
Num bar com amigos, ele passa um lenço de papel a ela no qual está escrito simplesmente: Territorialidade. Ela o fita com um olhar confuso. Ao pé do ouvido ele diz:
- Pesquisa o significado dessa palavra.
- Eu sei o que significa.
- Mas não esse sentido superficial. Pesquisa.
- Bom, no contexto em que estamos só há duas possíbilidades: ou estás dizendo que eu sou territorialista por invadir seu espaço, socializar com seus amigos, ou você está se referindo ao inverso, a falta de demarcação de território.
- ...
- Letra a ou b?
- Me incomoda perguntarem por ti em todos os lugares que vou.
- Então por que você me apresentou aos seus amigos?
- Sinto meu espaço invadido.
- Estamos saindo juntos há quatro meses, é natural que as pessoas associem nós dois, não?
Diante do silêncio incômodo, ela foi embora aborrecida e com um único pensamento na cabeça:
- E esses filhos da puta ainda têm coragem de dizer que mulher é complicada.
domingo, 8 de agosto de 2010
"Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara que o homem." (Nietzsche)
Na FLIP 2009.
Com toda a efervescência da FLIP 2010, as notícias, as imagens e toda a veiculação do que aconteceu por lá, me deu uma nostalgia danada dos bons dias que vivi ali no ano passado. E lembrei da mesa dividida por Sophie Calle, artista plástica, e Grégoire Bouillier, escritor, que, por acaso, não assisti. Para quem não conhece a história, um breve resumo: os dois se conheceram na festa de aniversário de Sophie. Grégoire foi o convidado surpresa - numa festa em que haja um convidado surpresa, o número de convidados deve ser igual à idade completada menos um, sendo justamente este um alguém levado por um dos convidados e sendo, ainda, obrigatoriamente, alguém que o aniversariante não conheça. Por conta deste episódio, Grégoire escreveu o livro "O Convidado Surpesa" em homenagem a Sophie. Depois de alguns anos de relacionamento, Grégoire termina o namoro por e-mail. Sophie, indignada e magoada, utiliza este e-mail para sua próxima exposição: Cuide de você, que, não por acaso, foi a frase que encerrou a fatídica mensagem de término. Na exposição, tal mensagem é lida por 107 mulheres das profissões mais diversas. Algumas entenderam como covardia, outras como uma tentativa de preservação da memória da relação, a fim de evitar o drama que permeia o fim de qualquer enlace, outras apenas não entenderam.
O interessante disso tudo é que se eles fossem pessoas comuns, seria apenas mais um casal que não deu certo, clichê como todos os outros. Entretanto, o fim virou arte e da melhor qualidade. Infelizmente, moro numa província e a exposição não veio até aqui, mas li muito sobre ela e fiquei encantada.
Durante a mesa que dividiram na FLIP 2009, os artistas trocaram farpas e lavaram a roupa suja em público. Sophie parecia suplicar de forma implícita para reatar e Grégoire fez questão de deixar claro que não tinha volta. Imagino que ela é como todas nós, precisa ter certeza de que tentou tudo para seguir sua vida.
Uma das imagens de divulgação da exposição.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
DIálogos Memoráveis XV
terça-feira, 22 de junho de 2010
Quer virar santo? Morra.
É impressionante como após a morte todos viram pessoas incríveis, excelentes, maravilhosas... Não faltam adjetivos. Ladrão vira estudante, agiota vira generoso, traficante vira autônomo, ex-namorado vira o homem da vida. Cortejos são organizados. Odes são escritas. Mas a verdade é que muitas vezes a pessoa só não fora assassinada antes porque é pecado para alguns e crime para todos. Digo isso porque outro dia um rapaz que mora perto da minha casa foi morto a facadas. Uma cena terrível certamente, pensando com humanidade. Entretanto, tratava-se de um rapaz deveras difícil (para ser gentil). Chamou várias pessoas para briga, colocava música (se é que se pode chamar aquilo de música) a todo volume, insultava as pessoas que reclamavam da altura do som num microfone, batia na esposa. Enfim... um longo histórico, com inúmeros desafetos. Mas em seu velório estavam pessoas que claramente não gostavam dele com um pesar indescritível, como se a humanidade estivesse perdendo um grande mártir. Bem, acho que não preciso dizer que não compareci ao velório, menos ainda ao enterro. Acho que quem procura, um dia acha. E já dizia minha avó: "remédio pra doido, é doido e meio".
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Morre Saramago
Um pensamento, para antecipar a saudade:
"A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada." (José Saramago)
Em paralelo, um pensamento meu: por que Carla Perez continua viva e Saramago morre? Como o mundo pode ser tão injusto?
segunda-feira, 7 de junho de 2010
O vício é inevitável
Não consigo usar os mesmos recursos para filmes ainda. Acho chato ficar baixando... gosto mesmo é do bom e velho original, com extras etc.
Bom, mas esse post é para quem tiver uma indicação de uma série boa, que não seja nem Grey's Anatomy, Private Practice, House ou Lie To Me, porque essas, eu já acompanho. :)
Agradecida.
sábado, 22 de maio de 2010
Ê saudade
Fotos para relembrar:
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Complexo de Amélie
quarta-feira, 28 de abril de 2010
A insustentável leveza
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Diálogos Memoráveis XIV*
terça-feira, 9 de março de 2010
Simplesmente Complicado
quarta-feira, 3 de março de 2010
Diálogos Memoráveis XIII
- Eu já quero chegar em casa e você estar lá. Dormir e acordar com você sempre perto.
- Quer resolver isso agora?
- E dá?
- Vamos a um cartório.
- Mas são duas e meia da manhã.
- Ah, é.
- ...
- Os cartórios deveriam funcionar 24 horas. Como ficam as pessoas impulsivas? E os rompantes? Têm que esperar o próximo dia útil?
- É... Amanhã a gente vê se ainda tá a fim.
- Combinado.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
- Você me odeia mais do que me ama?
- É páreo duro.
- Mas quem toma as decisões se não há sócio majoritário?
- Veja bem... 40% de amor x 40% de ódio + 10% de ciúme + 7% de posse + 3% de émeueninguémtasca...
- É... parece que o ódio tem mais aliados...
*****
Aproveito o tema para indicar o blog http://matandocarpinejar.blogspot.com/, escrito por Cínthya Verri, namorada de Fabrício Carpinejar. No blog ela pensa em várias mortes cruéis e doídas para o namorado. Catarse, queridos. Melhor fantasiar do que realizar de fato. Ou não. Recomendadíssimo.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Diálogos Memoráveis XII
- Já faz tanto tempo...
- O que é o tempo? É uma abstração.
- É... pode ser... Mas sou cética. Não consigo crer que algo que foi tão mal vivido, no sentido de ter acontecido de forma tão breve, sobreviva por tanto tempo.
- Eu estou dizendo que sobreviveu. Não basta?
- Não espere por mim. Pode ser em vão.
- Se "pode", não é certo, então espero.
- E se eu disser que será em vão? Assim... categoricamente?
- Ainda assim, tenho uma porcentagem de ilusão reserva que me ressarce da sua certeza.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
"É só mistério não tem segredo..."
Fui reclamar da falta de ideias para escrever que chegou junto com 2010, quando, em uma conversa telefônica com uma amiga, cito uma frase que li na Bravo! deste mês. A matéria, capa do periódico, é sobre Penélope Cruz, que, segundo a revista, se consagrou como a grande atriz europeia de nosso tempo, juntando-se às grandes: Greta Garbo, Sophia Loren e Catherine Deneuve. Ao falar das grandes, é citada a seguinte frase da alemã Marlene Dietrich: "Invejo Greta. O mistério é o maior charme de uma mulher. Gostaria de poder ser tão misteriosa quanto ela". Isso me fez pensar e concordar com Dietrich. Claro que ela não se refere ao mistério caricato e cheio de caras e bocas. Não a sedução histérica (aprendi sobre isso semana passada :P). Acredito que ela trata do mistério natural que cada mulher deve ter. Um homem não pode olhar para uma mulher e ver sua alma, ali, às claras. Entendê-la e prever suas reações tenderia ao tédio. Alguns chamam isso de jogo, eu chamo de charme, como a atriz alemã. E não estou aqui fazendo uma ode ao recato feminino, muito menos à moral e aos bons costumes. Até porque o mesmo vale para os homens: alguém que não deixa nada para que eu descubra depois é alguém sem novidade, previsível e sem graça. Isso é algo que aprendi com minha não tão vasta experiência e que gostei de encontrar par nessa opinião.
2010 ainda não me trouxe inspiração, por conta disso, posto aqui um texto com o qual tive total identificação. E me deixou feliz também, porque tenho três fobias, o que quer dizer que ainda estou dentro do limite da sanidade. Deliciem-se com o texto, que para fóbicos é seguramente mais engraçado.
Este é o texto de hoje do blog Vida Breve, que recomendo a todos. Ele tem postagens diárias de grandes e excelentes escritores.
Fobia das fobias
Por: Fabrício Carpinejar
O ansioso tem direito a três fobias. Mais do que isso, é ambição e vira doença.
Eu mesmo é que determinei a medida para não depender de especialistas. Sofro por antecipação, o que me põe a ensaiar a cena para diminuir o sofrimento. Só que organizo eventos para os atos mais minúsculos, dobrando o martírio no fim das contas. Ao invés de sofrer na hora, sofro um dia inteiro pensando na hora que vou sofrer. O incômodo passageiro é um desconforto permanente. Banalidades do cotidiano geram desproporcional tremedeira. No intuito de preveni-las, eu me canso em hipóteses pessimistas, desculpas furadas e boicotes.
Carrego uma postura catastrófica. Sou dramático nas amenidades, sóbrio nas tragédias. Sinto o pânico no lugar errado e no momento errado. Serei tranquilo num deslizamento, numa enchente, num incêndio. Mas perderei a lisura ao não encontrar um livro em minha biblioteca. O fóbico não é o que usa uma lupa para ampliar o tamanho das coisas, mas fixa a lente com tamanha insistência que acaba queimando o que vê com o reflexo do sol.
Meus medos são modestos. Exótico é o Roberto Carlos, que somente executa curvas à direita ao volante (chegará sempre a Brasília).
Irreverente é o compositor Arnold Schoenberg, oposto do Zagallo. Sofria de triscaidecafobia, pavor do treze. Seus raros erros estão concentrados no compasso desse número.
Estranha é a poeta Emily Dickinson. Permaneceu vinte e cinco anos reclusa em sua residência em Massachusetts. Consta o registro que saiu duas vezes do quarto para visitar o oftalmologista.
Existem fobias para qualquer drama. Não há limites no céu. Fobia de estrelas (siderofobia), por exemplo. Imagine o neurótico, que mora sozinho com o cachorro e teria que levá-lo para mijar. Olha a janela, repara o céu espocando brilho e lamenta: hoje não Rex, aguenta aí!
É um museu infindável de opções. Um playground masoquista. Fobia de ficar sentado (tassofobia), que atinge grande parte dos espectadores de Gerald Thomas; ou fobia de espelhos (isotrofobia), como feio deveria possuir, mas desperdicei a chance de cativar a mania na infância. E fobias terríveis, absurdas, indesejáveis inclusive aos inimigos, como de nudez (gimnofobia) e de sexo (genofobia).
Minhas dificuldades ainda não possuem nome científico. Uma delas é dar ré num carro no estacionamento lotado. Que tal apelidar de refobia? O globo ocular distorce a pacata garagem numa jamanta pré-histórica. Dezenas de veículos balançam nas costas do animal, que rosna e me ameaça. Entro na festa ou no restaurante em pânico, antecipando como me livrarei da manobra. Não solicitarei ajuda, é certo, o fóbico não confessa o que incomoda por vergonha. Suportará – em segredo – as alucinações. Tem consciência do ridículo de seu receio. A absoluta incapacidade de nomear engrandece o obstáculo. Ao mesmo tempo em que se cala, pondera que o ambiente inteiro repara nele e aguarda o vexame. Suará frio, umedecerá o rosto no toalete, não conversará nada que preste.
A segunda complicação comigo é a faca no café da manhã (proponho a alcunha de manteigageleiafobia). Meu pai conservava o ritual de me agradar e preparar bolachas com geléia de morango. Antes colocava manteiga em seu pão. Não mudava a ordem do gesto, muito menos limpava a lâmina na transição dos potes. Eu detestava manteiga. Comia a contragosto os resquícios brancos na crosta dura de sal, sem a mínima capacidade de reação, de falar um simples e educado “deixa que eu faço”.
Eu vejo que terminei fóbico pela independência. Sendo mais claro, sou dependente pela ilusão de independência. Acredito que ninguém tem condições e entendimento para me socorrer. Muito menos eu.
De todos os males, o que não suporto de verdade é que ofenda os inofensivos hábitos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Fóbico é um chamado carinhoso e me permite continuar vivendo.
Quem diz que não estou contraindo a fobofobia, o medo das próprias fobias? Já seria um amadurecimento.