domingo, 3 de setembro de 2017

Superego*


PARTE I

Ela o conheceu por meio de amigos em comum. De imediato o achou muito interessante. Acostumada aos homens rasos e sem conteúdo que conhecera, encontrou num leitor de Eco aquela certa profundidade que sempre procurava.

- Alice, ele tem namorada. E que namorada! Uma moça tão interessante quanto ele. De uma gentileza constrangedora. E pior: você a conhece! Dizia a si mesma, enquanto fingia prestar atenção à conversa.

Ele parecia curioso em relação a ela. Fazia muitas perguntas. Alice respondia a todas animadamente, tentando disfarçar seu interesse. No desenrolar do almoço, quando percebeu, ele estava sentado ao seu lado. E entre um passar de travessas e outro, observou que ele sempre a tocava. Não deliberadamente, com malícia, mas sentia a necessidade do contato. Anotou mentalmente essa informação.
......

Os outros dias correram normalmente. Ele dava cada vez mais atenção a ela. Ao mesmo tempo que isso a incomodava, envaidecia. E, dessa forma, seguiram os encontros seguintes, nas entrelinhas.

......

Perguntava-se, agora, com o privilégio da distância, em que momento se envolveu naquela teia. Cometeu o erro da proximidade, o que a colocava numa posição difícil qualquer que fosse sua decisão, já que a proximidade era em relação a ambos.

* Texto escrito a quatro mãos com Katy Karen, do blog www.alter-egua.blogspot.com