segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Ton sur ton



Ela terminara o namoro há meses e ele ficara (e continuava) inconformado. Agia como um doente. Sorrateiramente a seguia, espionava, perseguia. Ela, por sua vez, tinha medo dele. Achava-o capaz de fazer com ela as piores perversidades. Vivia sobressaltada. Sempre esperando sofrer uma tentativa de agressão ou algo que o valha. Não dormia direito, tinha sonhos terrivelmente violentos com seu algoz. Aquilo só podia ser orgulho ferido, era doentio demais para ser amor, pensava. As olheiras, as roupas nitidamente sujas, o mau cheiro, os quilos perdidos. Ele devia estar há dias sem tomar banho. E isso só a assustava mais.

Em casa, após um dia de trabalho, no começo da noite, soa a campainha de seu apartamento. À espera de uma amiga, enrola-se na toalha e abre a porta.
Depara-se com aquela figura medonha, pavorosa. Tenta fechar a porta, mas ele a força e entra. Ensaia um grito, ele a impede.
Ela nota, então, que ele esconde algo na mão esquerda, nas costas. Desvencilhando-se daquele braço forte, se atira sobre o ex-namorado com uma faca e a enterra em seu ventre repetidas vezes, até ficar ofegante, cansada.

À mão esquerda do corpo sem vida, caído, uma rosa vermelha se revela e se confunde com o vermelho do sangue que se esvai.

18 comentários:

Ronaldo disse...

que história forte e triste.

Anônimo disse...

Das intensidades do amor. Sabia que se mata mais em crimes passionais do que por dinheiro? Alguém vai perguntar pela fonte, mas vi isso em alguma reportagem de televisão. Semana passada mesmo, soube de um suícidio num parque perto de onde eu moro, o cara havia acabado de matar a namorada num bairro vizinho. Recordando agora, lembrei que tem dois casos na minha família... e vez por outra, pensei que esse seria o meu destino. Mesmo porque ao perder a vida, se morre de uma só vez. Perder o grande amor é morrer aos poucos eternamente.

--------------- disse...

A percepção da realidade por vezes é toldada, por uma rosa arrancada do peito, que só quer voltar ao seu lar, pois é lá que estão as suas raízes...:)

fjunior disse...

ficou muito bom... me lembra Rubem Fonseca e Clarice Lispector...

Critical Watcher disse...

Muito bom mesmo. Sempre é comum, idealizarmos o obscuro. E nem sempre essa idealização enxerga a realidade. Triste fim.

Te indiquei para um prêmio. Olha lá no meu blog!

Parabéns!

Anônimo disse...

Oii Jô.
Putaquepariu hein!? rs Muito bom mesmo! Aliás, você está se superando!!

Obrigada pelos desejos de melhora ao meu pai. Ele já está em casa. =]

Beijos

Mafê Probst disse...

Nossa garota. Que texto triste.

Edu Guimarães disse...

Pelo menos ele conseguiu que ela o libertasse do seu amor.

. fina flor . disse...

credo! ela podia ter indicado um analista para ele, rs*

beijos, querida

MM.

Pushoverboy disse...

A culpa foi dele! Um fim triste, principalmente pra ela. Se queria uma outra chance que tentasse parecer menos louco naum?? Muito bom o texto como sempre!
bjos moça

Luana! disse...

E é assim que geralmente compensamos bons sentimentos: com dor!

Beijooooo, Jô dos belos textos! :)

Bárbara Lemos disse...

"Perder o grande amor é morrer aos poucos eternamente."

Eu sou fã desse cara. Risos.
E sua também. Adorei o conto, apesar de trágico, é lindo. Ele não tinha nada demais, só amor. Amor puro.

Triste...

Beijos, Jô.

Anônimo disse...

O nosso problema é que o tempo inteiro a gente assassina o amor. E nem se arrepende depois...

Paulo Bono disse...

uma história curta e completa.
abraço

Rodrigo disse...

Ótimo texto! de se ler e ficar fixado! Curto, completo e belo!

Ronaldo disse...

obrigado por retribuir a visita moça

bjs

Critical Watcher disse...

De nada, moça. Você o mereceu...
Esteja certa disso!

Pushoverboy disse...

kkkkkkkkkk quem consegue lembrar de tudo no dia seguinte??

Claro que entendo... para pessoas como ele é que existem aqueles grupos de apoio... apoio aos que "amam" de mais... Não há mal em amar demais, há mal nessa obsessão que ele tinha que o estava impedindo de agir como uma pessoa normal.

bjo moça.