quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Acasos programados


Todos os dias ela cruzava com ele no elevador. O bom dia com aquela voz grave era quase uma carícia. Se esforçava para chegar sempre na mesma hora. Exatamente. Notara a pontualidade dele. Quando se atrasava e não tinha aquele cumprimento pela manhã, seu dia era um desastre. O mau humor a dominava. Tudo parecia dar errado.
Ela o desejava de um modo que a assustava.
Um dia leu no crachá: Arthur. O nome combinava com ele. Forte.

Naquele dia ela estava decidida a iniciar uma conversa com ele. No hall, esperando pelo elevador, ela, ansiosa, olhava em volta. O elevador já descera diversas vezes. Ela deixava a porta se fechar.
Quando, já atrasada, desistiu. Ao apertar o botão do seu andar, ouviu passos apressados. Segurou a porta. Era ele. Olhou-a com um sorriso, ajeitando a gravata. E além do tradicional bom dia ganhou um obrigado.

Ela balbuciou centenas de frases possíveis. Desde comentários sobre a gravata, o tempo, o tom do piso do elevador até considerações sobre a política externa de um país do sudoeste da África. Nada parecia servir. Ele desceu, como de costume, no décimo segundo andar e se despediu com um até logo sorridente.

Como todas as noites, ao chegar em casa, despiu-se. Olhou-se no espelho e imaginou aquelas mãos grandes envolvendo-a. Aqueles lábios cheios beijando seu pescoço enquanto seus cabelos são levemente puxados para trás. Deita-se. Fecha os olhos e se toca. Imagina a respiração forte acompanhada de sussurros ininteligíveis em seu ouvido. Geme alto e se sente esmorecer.

- Bom dia.
A porta do elevador se fecha.
É... mais um dia sem mau humor, pensa ela, analisando palmo a palmo as costas de seu desconhecido preferido.


********


O fofíssimo do Vicente, do Palavras quase ocultas de um ser real..., me presenteou com o selo É um blog muito bom sim senhora. Obrigada, mocinho. Mesmo. :)


Pra variar, os mesmos critérios: blogs que eu gosto e que ainda não tenham o selo. Meus cinco indicados são (alguns dos que eu selaria já estão contemplados entre os indicados do Vicente):


Lucia, do Cena7;
Fê Probst, do Drapetomania;
Morganna, do Estalar os dedos;
Luca, do Lunaticidades; e
Edu, do Sanctuarium.

*****
Ouvindo Eu te amo, Chico Buarque.

19 comentários:

Edu Guimarães disse...

Uhm até que ela está bem comportada! Fiquei esperando o momento em que ela fosse agarrá-lo ali dentro do elevador... rss

Tá na medida certa Jô!

BeiJô!

Johny Farias disse...

Nossa, também esperava algo do gênero, algo mais selvagem (rs).
Mas tá ótimo assim, pelo andar
da coisa vai ter continuação, ou não?

és sempre bem vinda ao meu canto,
e espero ler muitas coisas suas também.

Beijo's, mocinha.

Mafê Probst disse...

Menina!!! Muitíssimo obrigada pelo selo! Adorei!

Critical Watcher disse...

Ei, me identifiquei com esse texto...
Já me aconteceu inúmeras vezes situações assim. As mulheres de meus sonhos jogadas naqueles pensamentos mais cálidos.

Estavam tão próximas de meus olhos...
E tão longe de meus afagos!

Enfim, adorei seu post.
Beijo, moça legal!

Luana! disse...

O que não é uma fantasia, hã?

Obrigada pelo presente,Jô! Iupiii! xD

Volto pra pegar, mais tarde!:)

Anônimo disse...

Intenso, as always...
É bom se permitir fantasias, mas acho que é melhor ainda realizá-las. Cadê a atitude da moça? Ela precisa fazer alguma coisa (até porque ele, atrás da gravata bem arrumada, pode estar sentindo a mesma coisa.)

Beijocas.

Critical Watcher disse...

Mais um comentário... Essa foto está perfeita!
Muito boa!

fjunior disse...

amores a distancia só percebemos o mal que nos fazem depois de um bom tempo, quando não tem mais jeito... beijão1

Luizg. disse...

muito me envaidece seu comentário.

esse é um dos que eu to/tava amadurecendo. talvez no fim de semana eu consiga escrever os outros dois que eu to na cabeça.

mas eles são maiores e mais delicados. tem que ter cuidado.

quanto a vc... não vou mais elogiar seus textos. detesto me repetir. ;)

(mas vc escreve com uma sensualidade digna de uma hilda hist, e falo sem medo ser injusto para com nenhuma das duas...)

Gabriela. disse...

Baiano é tudo preguiçoso mesmo.
Não tinha te favoritado ainda, e te vejo aqui todos os dias.
Sou uma cadela.
mas erro desfeito.

E eu também sei bem como são essas coisinhas que tiram o nosso mau humor.

Proibida disse...

Essa não é a primeira vez que venho aqui e como dá para se supor, eu gosto muito. Pelo visto não vou fazer nenhum comentário inédito: você escreve muito bem! Confesso que já me inspirei na sua escrita ousada para escrever também. Enfim, vim te comunicar que vou adicionar seu blog como favorito. Espero que não haja restrições. ;)

Boas vibrações...

Rodrigo disse...

Estranho esses acasos programados, que a gente espera.
Decidi que não quero mais perder nenhum texto daqui... ganhou um assinante do seu feed. Rs...

Pushoverboy disse...

Oi moça tudo bem?? voltei mais cedo que pensava... amanha vou ter que trabalhar :( mas vou confessar que senti um pouquinho a leitura noturna de textos tão bons quanto este!! As vezes você escreve umas coisas que é tão cotidiano que dá uma sensação de dejà vu!
Bjos moça.

Camila disse...

Muitos amores nascem de acasos programados, muitos terminam da mesma forma...

...o negócio, eu acho, é deixar-se invadir por tantos e tantos... sejam eles programados, afortunados, ou acasos simplesmente.

beijos daqui...

Anônimo disse...

Creio que todos nós tenhamos um desconhecido favorito:)

Mila disse...

Já vivi tantas paixões assim, de só observar e não fazer nada além de sincronizar meus horários para encontrar o fulano "por acaso" pelos corredores. rs
Faz muito tempo que não me vejo nessa situação, mas quando acontece, durante alguns dias (semanas, talvez) é uma delícia.

Bjs

disse...

Rodrigo, fico feliz com o seu comentário e me entusiasma a escrever mais. :) Apareça sempre que quiser e puder.

Camilinha, continuo sem conseguir comentar lá no teu blog. :(

Mila disse...

rsrs
Esse teu conto me fez lembrar de um caso de paixão de corredor:
Uma vez, eu cismei que estava apaixonada por um cara que fazia capoeira com o meu irmão. Liiiindo, corpo definidinho e tudo mais. Mas eu nem sabia nada sobre o cara. Aí, pra tentar fazer ele me ver, virei uma irmã "super boazinha" que acompanhava o irmãozinho até a capoeira, todas as quartas.
No final, acho que consegui trocar uma ou duas palavras com ele, meio por acaso e nada com muito sentido.

É cada coisa que eu arrumo... rsrs
***
Vanessa da Mata e Céu são duas cantoras nacionais que eu tenho ouvido demais, demais, demais! Fui em um show da Vanessa ano passado, lindo até dizer chega!
Agora tô louca pra ver a Céu.
Perfeitas!

Morganna disse...

as noites e os sussurros. eles dizem muito, né?

ei, moça! Obrigadiiiinha pelo presente! Vai ficar guardado com muuuuito carinho!
Um beijo, xuxu. :*