Parte 5 ou Última Parte
- Alô, Carla?
- Oi, Júlia. Nossa, você me ligando? Que coisa mais... atípica.
- É verdade. É que amanhã é sábado, achei que a gente podia marcar alguma coisa à noite.
- Ah, sim, claro. No que estás pensando?
- Pensei em um bar novo que abriu, várias pessoas já me falaram bem dele... não lembro o nome...
- Por mim tá tudo certo. Queres que eu passe pra te buscar?
- Ah, quero sim... não queria ir de carro sozinha.
- Certo, passo aí às nove. Ok?
- Ok... Carla, você pode levar quem você quiser, viu?
- Hum... pode deixar, entendi. Vou convidar o Pedro.
- Pedro? Que Pedro? Ah, o Pedro... nem lembrei dele. É, convida.
- Júlia, Júlia... tu és mais transparente do que imaginas. Até amanhã.
O que ela quis dizer com isso? Será que dei muita bandeira?
***
Quase dez da noite e nada de ele aparecer... Júlia já tinha decidido não esperar mais que ele viesse quando notou Carla olhando risonhamente sobre seu ombro. Era ele. Sentiu suas mãos esfriarem e seu rosto se aquecer.
- Olá, garotas.
Cumprimentou as duas com a mesma simpatia, o que a melindrou. Estava acostumada com exclusividade. Ele agia com tanta naturalidade, de modo tão espontâneo que a desanimou. Ela mal conseguia falar duas frases sem se enrolar com os pensamentos, gaguejar e ele ali, inteiro, como quem vai à padaria e pergunta o porquê do aumento de preço do pão francês. Depois, mais relaxada com as diversas doses de cuba libre que bebera ao longo da noite, já conversava animadamente com os dois. Carla, notando que sua presença já não era necessária, forjou um telefonema com um problema que exigia urgência para ser resolvido.
- Mas eu estou de carona com você, tenho que ir também.
- Eu posso levá-la. Escolha: ou foge de mim novamente ou fica mais algumas horas comigo aqui. Prometo que você chegará inteira em casa.
- Ok. Eu fico. Boa sorte, Carla. E obrigada.
- Estás me devendo uma. Boa noite pra vocês.
***
- Então... a sua fama de devoradora de homens procede?
- Claro que não. Só acho que os homens são presas fáceis. E isso os torna perecíveis.
- Você já esteve com todos os homens do mundo?
- Não, mas tenho corpus suficiente pra fazer uma afirmação categórica.
- Cuidado, na vida amorosa, nada é tão estatístico assim.
- Até hoje não falhou.
- Então um brinde a hoje.
***
- Não acha melhor avançar os sinais a essa hora? É tarde...
- Fique tranqüila. Você está segura comigo.
- Esse não é o caminho da minha casa.
- Sigamos o exemplo de Chapeuzinho Vermelho e vamos pelo caminho mais bonito.
- E você é o lobo mau?
- Talvez esse papel lhe caia melhor.
Pedro sinalizou e entrou num motel.
- A suíte presidencial, por favor.
Olhou para Júlia. Ela estava imóvel, sem esboçar reação nenhuma.
Ao entrar no quarto, ela analisou a decoração impecável do lugar.
- Se você me levasse a um motel de beira de estrada e pedisse o quarto mais barato, eu daria pra você do mesmo jeito.
Empurrou-o com força sobre a cama e começou a se despir. Ele a fitava com olhos faiscantes.
Beijou-o vorazmente. Abriu a blusa de Pedro com a habilidade de um torturador profissional: lenta e provocativamente. Botão a botão, seguindo o caminho aberto pela blusa com a língua. Sentia o peito dele arrepiado, com os pêlos eriçados. Soltou o cinto, livrou-o das calças e engoliu seu sexo com vontade. Pedro gemia e puxava seus cabelos com força, obrigando-a a olhá-lo.
Exploraram cada canto daquela suíte, vasculharam cada centímetro do corpo um do outro. Duas horas depois, se atiraram na cama, exaustos.
Olharam-se. Riram.
- Eu não disse que os homens são presas fáceis?
- Disse, mas você passou uma semana tentando marcar algo com amigos em comum em lugares que você sabe que eu freqüento, mas que por exatamente uma semana eu fiz questão de não freqüentar.
- Ah, é? E por quê?
- Porque eu gostei de saber que você estava se esforçando pra que acontecesse um encontro "casual".
- E não queria me encontrar?
- Claro que queria. Mas queria mais ainda que você notasse que eu não sou o tipo de homem-tapete com que você está acostumada.
- Hum...
- E amanhã? Como vai ser?
- Amanhã... boa pergunta.
- Eu posso te ligar?
- Deixe-me pensar...
- É, acho melhor retirar a pergunta.
- Eu preciso dizer que quero que você me ligue amanhã? Achei que já havia deixado claro.
- Precisa sim. Com todas as letras.
- Pedro, eu quero que você ligue amanhã.
- Não sei, acho que estarei meio ocupado.
- Engraçadinho...
***
- Obrigada. A gorjeta.
Fecha a porta e fita o buquê com vinte e quatro rosas vermelhas.
Pela melhor noite da minha vida (não, eu não digo isso a todas).
O que você vai fazer hoje à noite?
Muitos beijos,
Pedro.
Júlia sorri e pega o telefone para cancelar o jantar com uma amiga que marcara para esta noite.