Parte IIUm mês depois daquela noite regada a declarações de tempos distantes, sentimentos escondidos até de si mesmos e superegos pleonasticamente repressores, os dois formavam um típico casal de apaixonados com direito a telefonemas-relâmpago para dizer apenas que pensara no outro ao longo da correria do dia, bilhetinhos por toda parte, olhares brilhantes, mãos dadas e semi-sorrisos solitários e repentinos ininteligíveis e, na maioria das vezes, imperceptíveis aos demais.
Isadora nunca se relacionara com alguém com tamanha experiência de vida. Lucas se assustava com a diferença de idade, mas não conseguia parar de olhá-la e imaginar como seria um filho deles dois. Queria que tivesse os olhos e os cabelos dela. E a gargalhada também.
Ela o via como o melhor homem do mundo. Achava-se a sortuda das sortudas. Ele era um achado.
- Casa comigo?
- Hã?!
- A gente tá junto já tem dois meses e eu tenho certeza de que é você. Pra quê adiar mais o que pode ser tão bom?
- Eu não tenho nem emprego, Lucas! Casar?
- É, e ter filhos! E eu ganho bem, dá pra nós dois.
- Não, mas não é assim simples.
- Por que não? Eu peço transferência pra outra cidade que pague mais e tenha um custo de vida menor, tu vais comigo.
- Não, não vou.
- Se você gostasse mesmo de mim iria...
- Se você gostasse mesmo de mim ficaria.
- Temos um impasse?
- Não. Eu não vou me casar com você. Tenho dezenove anos, isso é demais pra mim.
- Você vai sempre se esconder atrás da sua idade?
- E você da sua? Alegando sempre que está numa idade que te faz precisar de estabilidade e blá blá blá? As coisas não precisam ser assim tão sérias.
- Então é uma brincadeira pra você?
- Não, mas também não precisa se transformar num casamento.
- Ok. Vou te levar em casa.
- ...
Ainda no estacionamento do prédio dele se abraçaram, choraram, pediram desculpas e subiram novamente para dormir abraçados sem dizer palavra.
Passaram um ano às voltas com tais questões: ele a pedindo em casamento periodicamente acreditando que a venceria pelo cansaço e ela se esquivando como podia sem magoá-lo. As alianças que ele comprara começavam a ficar cansadas e opacas...