domingo, 31 de agosto de 2008

No fundo era uma romântica. Apegava-se a cada cliente como se fosse o último. O que a tiraria daquela vida que só era fácil para quem via de fora. Nos olhares de desejo sempre procurava alguma entrega. Algum brilho. E por vezes o via. Ao final da noite, entretanto, percebia que projetara o brilho dos seus olhos no do outro e que não era nada. Voltava para casa desgrenhada, com os sapatos nas mãos e a maquiagem borrada. O que a fazia levantar no dia seguinte eram as novas tentativas. Vira um filme ou dois em que isso acontecia. Embora com suas colegas nunca tivesse acontecido, preferia achar que ela viraria estatística. Gostava de se achar uma exceção. Todavia, as marcas de expressão e os sintomas da velhice já se esfregavam na sua cara. Tinha pressa. Os clientes já não eram tantos, os preços dos programas passaram a ser negociáveis, dava descontos, achavam caro sempre. Tudo aquilo a irritava. Os saltos acabavam com a coluna. As roupas coladas demais incomodavam. O tom louro-cabaré dos cabelos já a aborreciam quando ia de manhã comprar pão e leite, combinavam apenas com a noite. Pagou contas, foi à creche deixar o filho e dar a parte do cafetão, que a esbofeteou dizendo que ela não conseguia nem pagar o aluguel do quartinho que usava. Voltou para casa para maquiar o hematoma que aquele puto deixara no seu rosto. Já havia pedido que ele batesse só em partes que não marcam, afinal, era seu instrumento de trabalho. Tentou ir uma vez à delegacia, mas os policiais passavam a mão nela e faziam gracinhas. Conformou-se, então, com sua sina e no dia seguinte reiniciaria sua procura eterna com aqueles olhos que não perdiam o brilho nunca e que agora se fechavam para descansar.

21 comentários:

Camila disse...

Que os olhos nunca percam o brilho e que a esperança eterna... Porque eu acredito em contos de fadas também!

Lindo texto, Jô!

Camila Mesquita

Buda Verde disse...

realmente muito bom!!! está de parabéns!!! um beijo.

Anônimo disse...

Jô! o/

Estava olhando uns comentários antigos, e me perguntei como estaria o seu blog. Aliás, como foi que andamos tão sumidas mesmo?

poxa, seus textos esão ótimos!

beijinho!

Mitch Souza disse...

Nada como um dia após o outro, e que o brilho nunca se apague!

Luara Quaresma disse...

Você é poesia *-*

Cais da Língua disse...

uau...
muito lindo
adorei
conheça meu espaço também
=*

...EU VOU GRITAR PRA TODO MUNDO OUVIR... disse...

Verdadeiro e doído.Felizes os que acreditam em recomeços a cada dia...mas a poesia está sempre presente em tudo que você escreve."Cada um nasceu para o que é..."

Luana! disse...

passando só pra deixar um xêro...depois eu volto, jô!


bjooooooo

meus instantes e momentos disse...

ótimo blog, muito bom o post, Gostei daqui.
Maurizio

Anônimo disse...

Oi, Jô! :)

É, eu gosto de Bukowski sim. Também acho forte. Ainda não conheço muito Henry Miller, mas é uma boa indicação, sem dúvida. :]

Também andava com o tempo corrido por aqui, mas agora as coisas estão mais tranquilas.

Ter tempo para escrever é bom!

Jô, espero que você arrume tempo aí e volte a postar os contos ótimos que você escreve.

Obrigada pelo comentário.
Beeeijos.

Camila disse...

Jô, depois passa lá no blog, tenhum um negócio pra você...

Beijinhos...

Camila

Ane Talita disse...

Jô!

que texto foi esse, bonita?
foda demais...

beijo.

Jeniffer Santos disse...

seus txt são OS txts...
mas tenho certeza q vc já sabe disso ;D

beijos!

Luana! disse...

Kkkkkkkkkk

Guia etílica? ôpa!! Se um dia tropeçarmos pela minha ilha, te levo em cachaçarias!!!

\o/

Hihihih

Willian disse...

No fundo, não somos diferentes dela. Todos que têm o hábito de escrever sentem o cheiro do sol, a cor do sabor, o som do silêncio... e buscam um "olhar verdadeiro"....

Nossa seu texto me fez ir além, só não vou postar tudo que pensei aqui, senão acabou não postando no meu blog.... rssss. Mas, colocarei a fonte de minha inspiração...

Bjinhos

Camilinha disse...

a esperança é a última que paga...hehe


beijos daqui...

Ni ... disse...

Continuar sempre...
Saudade Irmã...

Beijo e mais beijos...

Estella Maris disse...

OI Jô, será verdade que isso acontece? Procurar o amor dessa maneira e por esses meios? belo texto sobre quem apesar da vida é acima de tudo mulher!
Se tiver tempo veja meu blog OK,
osentirdaalma.blogspot.com
bjs

Johny Farias disse...

Que saudades daqui :)

Texto absurdamente realista, imagino esse seu texto num roteiro
cinematográfico, gravado no sêculo
vinte nas frias ruas de Paris. O Bernado Bertolucci iria adorar.

Beijo's Jô

Luana! disse...

Jô, vc tb sumiu, foi?

Menina, nem passei em uma das provas...=/
Estou esperando a seleção de outra..Ai, ai...tow quase desistindo dessa brincadeira de mestrado!

Aiiiiiiinnnnn

Bjoooooo

carlos massari disse...

histórias sobre prostitutas são sensacionais. elas são alguns dos seres mais sublimes desse mundo, junto com os bêbados e as demais almas vagantes.