terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Melancolia


(Fotografia de Eduardo Trindade, colhida no site Olhares.com, de título Ad infinitum. Edu, espero que não se importe, sei que não pedi permissão, mas era pra ser surpresa mesmo.)


Ontem, saindo do trabalho, vi uma moça sentada na calçada, com a cabeça baixa, soluçando. Um soluço daqueles que independe de nós, que saem sem nos consultar e sacodem nossos corpos descontroladamente (e não estou falando de sexo). Depois, ainda no mesmo quarteirão, um moço com um olhar de cortar o coração, triste de doer a alma de quem cruzasse os olhos com os dele por meio segundo. A seguir, um casal brigando. A moça estava com ar de indignação e de quem é portadora de uma inquestionável razão. O rapaz, de olhar baixo, me deixou confusa entre uma confissão de culpa ou aquela clássica estratégia de dar razão ao outro para abreviar a discussão.
Parado no sinal, um taxista ouve “Solidão é lava, que cobre tudo...”. Um clima de melancolia generalizado... Olhei pro céu: nublado. Chego em casa. Não tem energia elétrica. Acendo umas velas, incenso e um cigarro, que não sei de onde tirei, já que não sou fumante, mas foi muito oportuno, a ocasião pedia um cigarro. Sempre achei fumaça e fogo fascinantes. Rendem boas fotografias.
Toca o telefone. Um amigo que eu não falava há meses. Duas horas de conversa animada, risadas, lembranças, risadas, notícias e mais risadas. Desligamos. Entretanto as risadas não apagaram a contagiante melancolia coletiva... Entristeci. Ao menos aquele resto de dia. Por todos os tristes que vi. Contemplo a vela, a sombra que projeta na parede. O incenso já cheira a tristeza. A fumaça faz movimentos cabisbaixos. As sombras parecem esperar por algo. Choro.

16 comentários:

Anônimo disse...

Que coisa mais linda, Jô. Acho que precisamos ter aquela conversa sobre belezas e tristezas.

La Maya disse...

Que elegante a nova imagem do título!
E eis que vejo outro post triste. Bonito e triste. Acabou me trazendo lembranças tristes também.
Será efeito de fim de ano?

'eu que não fumo
queria um cigarro'...

Salve Jorge disse...

"É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é amelhor coisa que existe
É assim como uma luz no coração..
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Se não não se faz um samba não..."

Já diria Vinicius
Capitão do mato
Com seu fino trato
E seus belos vícios
Mas a tristeza em teu relato
Tem o belo tato
Do diálogo íntimo...

La Maya disse...

Verdade Jô, ganhei uma ótima desculpa com a sua sugestão dos cinco blogs...!

E não se preocupe não que você não plagiou ninguém: quando li seu texto até eu, que também não fumo, lembrando de certas coisas quis um cigarro à mão! Daí lembrei de uma música dos Engenheiros, "Eu que não amo você". É dela essa frase. Pode ficar descansada, acho que não virão cobrar os créditos!

E o "fator distância" já me deu muitos motivos pra me irritar: por que o que é interessante parece estar sempre longe _ ou o que está longe nos parece sempre mais interessante? =D

Mila disse...

É a melancolia de fim de ano.
Me nessa época atinge também. Sempre!
Não raro, me verão pelas calçadas, soluçando sozinha.

O cigarro é engraçado. Não sei explicar, mas ele combina tanto com tristeza e solidão. Ou com momentos de "eu comigo mesma".

Beijos

Mila disse...

Ops!
*Me atinge nessa época também.

fjunior disse...

ei, você trabalha onde hein? pra encontrar tanta tristeza pelo caminho? rs

mas estas coisas acontecem... ficar triste pelos outros é pior do que por nós mesmos, pois não podemos fazer muito... não dá pra chegar e falar, pow eu imagino o q vc tá passando... não dá pra imaginar, cada dor é uma dor diferente...rs

Anônimo disse...

Minha cara Jô, se tudo que você leu até hoje parecer contos da carochinha após ler a "Insustentável..." vou me sentir culpado. Ei, não crie grandes expectativas a respeito. Algumas vezes me decepciono com esses: VOCÊ TEM QUE VER ISSO...rs. Apenas leia quando puder e me diga depois o que achou. No máximo, o que pode acontecer é você não gostar do livro, mas este, em sebo, você consegue vender fácil... Aliás, pode vender para mim, já que a minha edição escafedeu-se pelo mundo... rs

Mafê Probst disse...

melancolia é necessária, lágrimas são necessárias. Nos fazem chorar, limpar a alma e renascer de novo.

Salve Jorge disse...

Quando retornares a Pasárgada
Ilumine o rastro
De tuas pegadas
Farei deles lastro
Para devorar cada pedaço
De suas flores astrais
Os interstícios de sua paz
E a graciosidade do teu traço
Um enlace, um beijo
Um queijo, um abraço...

Anônimo disse...

Eu fui lendo e me lembrando de dias ou momentos em que senti algo pareceido. Aliás, acho que todas as pessoas ao menos um pouco observadoras e sensíveis, conseguem sentir alguma sensação assim no ar, de vez em quando.
O bonito é que você traduziu isso de maneira doce.

Lindo. =]

Camila... disse...

Eu sempre me surpreendo com a quantidade de gente de olhos vermelhos que vejo na rua. Gente de cara amarrada é normal, mas tristeza é algo que dói nos olhos e no coração. E esse texto traduz isso como nenhum outro. Belo e triste.

Beijo! E dias felizes, por favor! :-)

Anônimo disse...

Vou ficar mal acostumado com essa sua atenção... A despeito do prazer físico de folhear um livro, me fascina o prazer imaterial, mais do que um DVD de um bom filme, que na maioria das vezes apenas conta uma história, um bom livro é aquele que revela uma alma, um pensamento. E em suas revelações vai abrindo horizontes. Acredito que presentear alguém com um livro de bom gosto, uma das maiores formas de consideração que possa existir. Ah, sou desses apaixonados pelas letras... deu pra perceber, né? rs. Fico envaidecido só pelo fato de você pensar em fazer isso, rs, nem precisa me dar o livro...rs.

Cláudia I, Vetter disse...

Permaneceu.......



Muito boa descrição!

;****

Eduardo Trindade disse...

Conforme disseram aí em cima, a melancolia é necessária, ou pelo menos eu acho que ela faz parte de certos momentos. Mas somente até o ponto em que a sentimos, domamos e depois seguimos em frente. É o que desejo a cada um dos tristes que encontro!
E contraponto à tristeza: que alegria ver minha foto aqui ilustrando teu belo texto! Só espero que, na próxima vez, eu possa contribuir com algo mais risonho e colorido!

Juliana Almirante disse...

: )
vc é linda.
(por dentro, mesmo)