segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Chuvas de Verão

Parte III ou Final

Durante todos os outros dias, eles ficaram juntos. Ela pediu discrição, já que ele era noivo e tal informação era de conhecimento geral. Entretanto, ele, como a maioria dos homens, não sabia ser discreto. Os olhares e sorrisos eram perceptíveis até ao mais desatento dos observadores. O cuidado e atenção que dispensava a ela eram exagerados.

Ela já não se importava. Quando percebeu, estavam andando de mãos dadas em plena praça, rindo de piadinhas que só os apaixonados conseguem rir.

Após uma semana de romance, a despedida. Ela voltou a sua cidade contendo as lágrimas, ele permaneceu no cais sem conter as dele. O último beijo foi entrecortado por promessas.

- Eu vou te encontrar.
- Então vá.

Pôs na mão dele um bilhete com um número de telefone e virou as costas. Preferiu não olhar mais.

(...)

Telefonemas espaçados ainda os ligava.

- Vou à tua cidade na semana que vem.
- Sério?
- Juro.
- Vens a trabalho?
- Não. Vou pra te ver.
- ...
- Ligo quando chegar.
- Combinado.

Beatrice foi ao supermercado, comprou o melhor vinho que conhecia, frios e alugou filmes. Uma amiga, acompanhando a excitação, emprestou seu apartamento para o encontro. Estava tudo preparado.

Um dia se passou. Ele não ligara. Outro dia. Nada. Mais um dia. Aquele em que iria embora, segundo o que dissera na semana anterior.

Às 22h37, o telefone toca.

- Estou indo embora.
- Boa viagem.
- Me perdoa. Não pude te encontrar. Ela veio me encontrar aqui.
- Ok. Espero que se casem logo. Noivados longos são desgastantes.
- Não fala assim. Você sabe que eu queria estar com você.
- Eu achei que soubesse.
- ...
- Boa viagem. Não precisa me ligar mais.

Já dizia alguém que a expectativa é a ante-sala da frustração. Beatrice, que sempre detestara frases feitas, tornou esta seu lema.

Depois deste episódio, foram várias vindas, telefonemas e apelos, mas ela não encontrava disposição alguma para tentar novamente. As desculpas e pretextos para dizer não eram sempre um desafio de criatividade. E isso era bem mais divertido do que a espera vã. Descobrira que poderia ser bem sádica quando estimulada, como as boas mulheres o são.

*******

Eu havia abandonado esta série sem final, mas achei isso tão reticente, que resolvi finalizá-la. As outras partes encontram-se no marcador Chuvas de Verão, no lado direito da página, a quem interessar.

6 comentários:

...EU VOU GRITAR PRA TODO MUNDO OUVIR... disse...

Eu senti a decepção que a Beatrice deve ter sentido!!!

Esperar e nada acontecer...dói muito!!!

Um belo e sofrido conto,vou ler as outras partes!!!

Um beijo!!Sonia Regina.

Com ou Sem conclusões disse...

Sei lá, acho que foi bom o final.. Ela não pareceu nada desiludida.. Agora ele... um casamento sem esperanças.. Beijos da leitora!

Érica disse...

Decepção.
Isso é muito ruim, esperar, planejar e não ter.
Passei por isso, e não consegui me conter, não fui forte, chorei horrores e me depedacei.
Nunca mais quero isso pra mim.
Eu adorei a história. Fantástica.
Beijos Jô!

A Magia da Noite disse...

a vida dá imensas voltas, mas acaba sendo um circulo, e uma hora dessas surpreende-nos de novo.

Vanessa Raiol disse...

E aí, gata?

Gaby disse...

Gostei.