domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dos Diálogos Memoráveis XVIII




Duas amigas: uma romântica e uma nem tanto, sexta à noite:

(...)
- É, minha amiga, as pessoas andam tão previsíveis que até eu, que não gosto de surpresas, ando querendo ser surpreendida, só pra variar.
- Nem me fale.
- Eu tenho a sensação de um déjà vu ininterrupto. É tudo sempre mais do mesmo.
- O romantismo está fora de moda, amiga.
- Tu dizendo isso?
- É.
- Ah, não, eu sempre me orgulhei de conhecer a última das românticas!
- Não conheces mais. Juro que se alguém que me tratasse bem e eu gostasse me pedisse em casamento hoje, eu aceitaria. Perdi aquela ideia de que o amor suporta tudo e basta para manter as relações. Não penso mais assim.
- Ei, esse discurso é meu. Nossa, meu mundo caiu.
- Ô, amiga, te frustrei, né?
- É, eu poderia até não ser praticante frequente do romantismo, mas era bom saber que ele estava por aí... Agora não sei o que sobra de bom. Definitivamente mulheres românticas estão saindo de linha. Aos interessados, em breve, só restarão os antiquários. Que triste... Vou ali tomar um cianureto e já volto.
- Dramática!

************************

A ex-romântica em questão é Vanessa Raiol, que escreve o Mosaico e, inclusive, escreveu um post sobre o mesmo tema, provavelmente, inspirada pelo diálogo acima.
Não consegui linkar, mas aí está o endereço do post (pra copiar e colar na barra de endereços do navegador):
http://mosaicodavanessa.blogspot.com/2012/02/os-opostos-se-distraem-os-dispostos-se.html

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Das correspondências extraviadas


Querido,

Chamo-o de querido por elegância, porque nem sequer um palavrão você merece. Não sei se o pior é você, que tem esse dom macabro de iludir com todo seu discurso bem articulado ou se eu, que mesmo com minha intuição gritando histericamente, acreditei em cada palavra. Suas verdades de fundo de copo são tão clichês que só mesmo uma mulher apaixonadamente burra para não notar que tudo aquilo não passava de uma fórmula sem criatividade e sem o menor pudor em ser lugar-comum. Mas eu aprendi. Entre uma lágrima e outra, entre um soluço e outro, entendi. E você? O que levará de tudo isso além da sua vaidade e egocentrismo crônicos? A diferença entre nós é que eu saí diferente dessa história e você saiu exatamente igual: o mesmo pretensioso e arrogante que acha que com um sorrisinho de canto de boca e uma barba por fazer consegue tudo. Continue pensando assim e me dê o prazer de ver o fiasco que sua vida amorosa será. Espero realmente que você continue sendo o que é, afinal, eu não poderia desejar nada pior.

Agora sim, definitivamente, adeus.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Entrelinhas


- Quando posso ligar para você novamente?

(Não faça cerimônia, entre. Não espere meu consentimento. Invada. Quem toca a campainha nunca surpreende. Aposse-se. Quem pede permissão abre espaço para a hesitação. Deixe-me sem escolha, apenas me tome para si, sem dizer nada.)

- Surpreenda-me.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Das armas letais



Desde criança já anunciava que seria uma mulher das mais orgulhosas. Todas as desculpas que pedira foram sob a coação da mãe. Nunca verdadeiras.

(...)

Amava-o com toda a intensidade possível. Só de pensar em sua vida sem ele sentia um nó na garganta e um calafrio.
Tinha convicção de que a relação não vingara pela teimosia dele. Como todo orgulhoso, ela era mestre em apontar justificativas e culpados.
Não perderam o contato mesmo depois de tanto tempo, mas não chegaram a ser amigos. Ninguém entendia a ligação entre eles.
Em um telefonema ela teve um rompante de coragem e até ensaiou:

- Queria te dizer algo.
- Diga.
- É que...
- Não elabore tanto, tudo que é elaborado demais perde a beleza.
- É que eu queria aquele livro que você estava lendo emprestado. Você já terminou?
- ...

Chorou até dormir, lamentando-se. Não acordou mais.

No atestado de óbito, com a letra ilegível do legista:

Causa Mortis: orgulho crônico.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Dos Diálogos Memoráveis XVII



- Ele me traiu de novo, acreditas?
- Acredito, claro!
- Por que falaste assim?
- Porque ele já fez isso antes.
- Mas da última vez eu disse que não o perdoaria novamente.
- E na traição anterior você disse a mesma coisa.
- ...
- Ele já percebeu que você não tem coragem de romper.
- Mas uma hora eu cansarei.
- Claro. Entretanto, enquanto isso não acontece, ele continua te traindo.
- O que eu devo fazer então?
- Se não estiver pronta pra deixá-lo, nada. Mas também não diz que o fará. Toda vez que você diz que fará algo e não faz, você cai no descrédito. E ele vai usar isso contra você.
- Quisera eu conseguir racionalizar as coisas assim.
- Claro que não conseguirá. Você está envolvida na situação. Quando se observa de fora, tudo é evidente. Tenha certeza de que se fosse o inverso, seria você a me dar conselhos racionais. O amor deixa as coisas turvas.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Meia-noite em Paris


Não basta ser Woody Allen, tem que ser em Paris.

Um filme para todos os apreciadores de artes em geral e dos grandes artistas franceses. Assistam.