domingo, 25 de outubro de 2009

Sabia-se sozinha. Isso a acalmava e apavorava. Olhava para o homem dormindo ao seu lado e o via desbotar numa fotografia manchada, velha e sem cor. Assim fora com todos os outros. Não queria ilusões. Usava-os e mandava embora. Sempre fora assim. Preferia não saber telefones, estado civil, cerveja preferida. Aquele, porém, parecia diferente. Não roncava, ressonava. Aquele ruído parecia um mantra. Colocou sua cabeça sobre o ombro do desconhecido e dormiu. Profundamente.

Despertou com o barulho do chuveiro sendo ligado. A porta aberta dava uma visão privilegiada para aquela silhueta. Saiu com os sapatos na mão, sem bater a porta. A ideia da intimidade a desesperou. Correu vigorosamente em ziguezague, cortando ruas e quadras que não conhecia e só parou quando teve certeza de não saber voltar.

Seguiu com um sorriso doído e os olhos carregados de tristeza.

sábado, 17 de outubro de 2009

- Feche a porta quando sair.
- Mas eu volto já.
- Não importa.
- ...
- Não gosto de portas entreabertas. Quando voltar, bata. Eu decido se ainda quero que entre.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ele

Ele é o terceiro de Terezinha, do Chico. Aquele que chega sorrateiro e toma seu lugar feito um posseiro. Sabe dizer coisas bonitas quando deve. Sabe abrir a porta do carro de vez em quando, porque sempre é irritante. Não sabe consolar com palavras, mas seu abraço parece fazer parar o mundo. A risada gostosa esconde uma tristeza crônica que coexiste pacificamente com os outros sentimentos. Não tem tempo para nada, mas sempre dá um jeito de telefonar para dizer que está com saudades. Joga até hoje na minha cara que gastou uma fortuna com telefone para me convencer a marcar um encontro. Ele não aguenta quatro sessões seguidas de cinema, não gosta muito de drama, mas sempre assiste comigo. Amanhã faremos um ano de namoro e mesmo com tantas diferenças, seguimos.