
Sabia-se sozinha. Isso a acalmava e apavorava. Olhava para o homem dormindo ao seu lado e o via desbotar numa fotografia manchada, velha e sem cor. Assim fora com todos os outros. Não queria ilusões. Usava-os e mandava embora. Sempre fora assim. Preferia não saber telefones, estado civil, cerveja preferida. Aquele, porém, parecia diferente. Não roncava, ressonava. Aquele ruído parecia um mantra. Colocou sua cabeça sobre o ombro do desconhecido e dormiu. Profundamente.
Despertou com o barulho do chuveiro sendo ligado. A porta aberta dava uma visão privilegiada para aquela silhueta. Saiu com os sapatos na mão, sem bater a porta. A ideia da intimidade a desesperou. Correu vigorosamente em ziguezague, cortando ruas e quadras que não conhecia e só parou quando teve certeza de não saber voltar.
Seguiu com um sorriso doído e os olhos carregados de tristeza.