
- Almoçamos juntos?
- Por que não?
Passaram a tarde inteira conversando. As palestras ocorriam paralela e lentamente. Ele a fitava com tanta intensidade que era como se ela não pudesse lhe esconder nada.
- 23 anos?
- Não...
- 24?
- Menos.
- Menos?
- 20!
- Jura? Eu jamais lhe daria essa idade.
- 35?
- Um pouco mais.
- 37.
- Bingo.
- ...
- Seus pés estão inchados... posso fazer-lhe uma massagem se quiser, mais tarde, no hotel.
- Aceito.
- Você dividirá o quarto com quem?
- Com umas moças que não conheço bem, mas parece que sairão para uma festa essa noite.
- Ótimo.
- Hum... (levantando uma sobrancelha)
- Não me entenda mal... apenas poderemos ficar mais confortáveis, conversar...
- Ok. Combinado.
Ao longo do jantar a troca de olhares ficou evidente a qualquer observador minimamente atento.
- Sabe que você me chamou atenção desde que chegou? Esse evento todos os anos traz as mesmas pessoas. Quando vi você, fiquei lhe observando longamente.
- Sei... e onde eu estava?
- Sentada num banco de praça, com um vestido longo, um rabo de cavalo e um livro. Quer que eu diga que livro era?
- Quero.
- A Cidade Sitiada, da Lispector.
- ...
- Eu a vi de lado, concentrada, lendo atentamente, e pensei: deus, essa mulher é um camafeu!
(Risos)
Beijaram-se.
Não, essa história não terminou em noite de núpcias, nem em lua-de-mel no Caribe. Mas quem precisa de um final feliz quando se tem uma bela surpresa num dia quente e pouco promissor?