segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Do inevitável

Embora não tenham se conhecido virtualmente, o que eles tinham era absolutamente virtual. Algo os afastava, havia sempre algum impedimento: um dos dois estava namorando ou ambos. E assim seguiam com divertidas - e seguras - conversas telefônicas. Até o dia em que ele sugeriu que ela fizesse uma visita.
Ao sair do trabalho, ela liga:

- O convite está de pé?
- Você sabe que cheguei ontem de viagem. A casa está uma bagunça...
- É para eu ir ou não?
- Estou esperando você.

Por cerca de 20 minutos conversaram. Um pouco constrangidos pela proximidade não habitual. Ele a encarava com olhos de predador quando começou a questioná-la sobre o motivo da visita.

- Por que você quis vir aqui?
- Você não convidou?
- Poderia ter dito não.
- Você quer que eu diga?
- Por favor.
- Vem logo aqui.

Beijaram-se com a pressa de quem espera há muito.Diante de tanta abstração, o palpável parecia surreal.
Foram muito mais longe do que ela pretendia permitir, mas ele era bastante convincente.

***

O que se seguiu foram momentos para lembrar e sorrir com o canto da boca nas horas mais impróprias. Não se prometeram nada, apenas saíram daquele dia com a certeza de que precisavam daquilo. Ainda que não se repetisse.